quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Pessoas

Digo muitas vezes que perdi a fé na humanidade. Digo isto pelas razões mais estúpidas por vezes. Coisas como enganarem-se sempre no drive thru e nunca meterem no saco de papel os saquinhos de sal par as batatas.
Também digo isto em situações em que pessoas têm acções realmente maléficas.
É sempre mentira.
Eu não perdi a fé nos seres humanos. O meu problema é que cada vez tenho mais consciência que o número de pessoas que efectivamente merecem essa fé é mais pequeno e que por isso dada a vastidão do nosso planeta são muito difíceis de encontrar.
Não estou a ser pretensiosa, não me considero superior à maior parte das pessoas que me rodeiam e não é por isso que evito o contacto.
A verdade é que eu sou estranha. Se as pessoas que eu conheço tivessem um "top 10 das pessoas mais estranhas" que conheciam eu seria um elemento comum em todas essas listagens e por isso é-me extremamente complicado criar uma relação de empatia com outros seres humanos.
Em interacções social eu sou rapidamente rotulada como a rapariga com voz de desenho animado que até é engraçada e fala muito. Soa bem mas o problema é que isto é rapidamente traduzido para " és o bobo da corte por isso eu vou ficar imóvel e sem dizer palavra e utilizar a tua existência para meu entretenimento sem fazer o mínimo esforço para dar uma contribuição para o seguimento desta interacção.
Deixem-me simplificar.... o equivalente da minha vida social se fosse passada num chat é isto:

Pessoa - Queres falar?
Ana - Sim! Qual a tua cor favorita?
Pessoa - Vermelho.
Ana - Vermelho sangue ou vermelho fogo?
Pessoa - Vermelho...
Ana - Eu gosto de roxo!
Ok
Gostas mais de cerejas ou framboesas?
De cerejas.
Então e o que fazes da vida?
Trabalho.
Mas trabalhas em quê? Como é que é um dia típico teu? Gostas do que fazes?
Nem por isso.
Então?
"Explicação prolongada acerca de quão miserável é o trabalho que tem de fazer, seguida de lista de queixas sobre a vida em geral".
Bem, então se não gostas vamos falar de outra coisa qualquer.
Ok.
Sobre o que queres falar?
Não sei.
Cinema... parece-me um bom tópico. Qual foi o último filme que foste ver?
.....
E seguem-se mais 400 linhas de perguntas feitas por mim e respostas dadas pela pessoa que entretanto acha que eu sou muito boa "ouvinte" e me conta a história da vida toda sem fazer uma única pergunta até que eu desisto e aí acontece isto:
Bem, vou andando.
Já??? Mas eu estava a gostar tanto de CONVERSAR contigo!

Caras *pessoas*...  aquilo não é uma conversa. Aquilo é um questionário!
ARRRGGGGG!!!!!

Pausa para bater com a cabeça no teclado repetidamente.

Esta é uma das razões pela qual a minha fé na humanidade está cada vez mais concentrada num número reduzido de pessoas. A fé ainda existe... sente-se é um pouco solitária.
É também por isto que eu tenho cada vez mais dificuldade em ir voluntariamente para sítios cheios de humanos.
Eu estou habituada a sentir-me um bocado desconectada do mundo mas o sentimento torna-se esmagador quando tenho centenas de pessoas à minha volta com quem não sinto nenhum tipo de ligação.
É o já batido sentimento de estar completamente sozinha numa sala cheia de gente.
É piroso!
É muito piroso!
É mais que piroso.. é quase emo.
É por isso que me fecho em casa: porque tenho medo que sair à rua me vá fazer usar roupas pretas, usar o cabelo em frente dos olhos e passar 2 horas em frente ao espalho a atentar fazer com que a minha maquilhagem dê a ilusão de que estive a chorar durante os últimos 3 dias.

Eu não posso usar o cabelo em frente dos olhos. Eu já tropeço nos meus próprios pés quando consigo ver o caminho, imaginem com o cabelo à frente dos olhos!
Quer dizer, uma pessoa tem de se proteger. É que daí até desenvolver obsessões com vampiros e começar a escrever poesia pseudo-intelectual são dois passinhos.  Barf!
Até aqui? Leste a página toda? Uau.. até estou emocionada.. Olha aqui a lágrimazita ao canto do olho...